Todos os dias desço e subo a mesma avenida, mas só nas últimas voltas nessa recta que em dias de maior cansaço parece interminável é que me deparei com a quantidade de pensamentos que comigo subiam…
Nos piores momentos do dia, de manha, quando ainda custa abrir os olhos, com aquela indisposição permanente que torna qualquer barulho num ruído ensurdecedor para quem, a todo o minuto e durante todo o caminho, vai como se ainda estivesse a flutuar nos sonhos que na cama tinham ficado. Ou então, ao fim da tarde, quando uma pessoa anda de cabisbaixo, deambulando de preocupação em preocupação, de problema em problema, tornando-se parcialmente cego de tanto remoer a cabeça com o seu pensamento, continuamente a andar não vendo o chão que pisa.
Costuma ser normalmente nos finais de tarde a altura em que eu fico mais pensativo. Talvez por tanto problema, ou talvez por tanta preocupação, ou até mesmo por já ser uma coisa minha. E durante a longa e apressada viagem de regreço ao tão desejado lar, o certo é que tenho momentos para quase tudo: Ora me ponho a olhar para as pessoas e a pensar que tipo de coisa é que elas devem estar a pensar naquele momento, ou então, simplesmente a ouvir música na tentativa que a subida custe menos e que a chegada a casa seja mais rápida.
É esta a única rotina que tenho, descer e subir uma avenida de sonhos, saudade, alegrias e tristezas. Em que, por vezes, tudo parece ser inventado, e por outras tudo é tristemente real ao ponto de transformar o som em barulho, apreçando o vagaroso e deteriorando os cérebros de quem nela mostra preocupação. É esta a rotina que me mata. Mata-me levemente, como se de alguma maneira me quisesse acordar para a vida.
