Havia algo no ar, uma brisa leve e suave que chamava a atenção. Uns cabelos loiros esvoaçavam com o vento deixando o mundo em câmara lenta, sem igual, obrigando tudo o que é mau a desaparecer. Pertenciam a uma rapariga de olhos cor de céu, pele clara e com um espírito tão jovem como a aparência.
Do outro lado da rua, um rapaz colocava toda a sua atenção na rapariga de cabelos loiros. Rapaz, esse, de grandes sonhos e de ainda maior coração, que observava cada movimento dela, ficando gravado na mente dele como um gesto perfeito.
Há um espaço entre eles, uma barreira de grande tamanho que impedia qualquer passagem.
O rapaz via-a sozinha, porém pouco podia fazer senão olhar, e ela, com o seu jeito único lá continuava. Era a rapariga perfeita e ele sabia disso.
Pouco ele podia fazer, não tinha nada a seu favor, mas não se importava. Ele apenas queria a ver todos os dias.
Fazia muito tempo em que esse mesmo rapaz tinha perdido metade do seu coração. Desgostoso e reservado, esse rapaz sobrevivia apenas com metade do coração que tinha sobrado de um antigo amor, tendo apenas e só saudade nessa metade que lhe sobrara.
Longe ia o tempo em que ele se sentia em casa por onde quer que fosse, longe ia o tempo em que a coragem não lhe faltava.
Sentado na companhia do seu cigarro, esse rapaz era livre mas ao mesmo tempo cheio de fantasmas.
Via ele nessa menina de cabelos loiros a outra metade que lhe faltara, contudo, via-a de longe, sem nada fazer.
Esse rapaz apenas pedia a Deus para que um dia ela tropece de leve ao pé dele só para ele a poder segurar, e enquanto o cabelo esvoaçava deixando tudo em câmara lenta, olhar-lhe nos olhos e lhe perguntar se estava tudo bem, devolvendo-lhe ela assim a metade do coração que lhe faltava.