Velhos tempos. Esses mesmos.
Falo como se fosse velho, mas nem o sou assim tanto. Apenas tenho saudade. Saudade do tempo em que não tinha grandes problemas na minha vida, a não ser a indecisão do joguinho que eu iria fazer para passar o tempo. Apanhada ou à macaca? Pois é, nunca sabia o que fazer primeiro.
Saudade do tempo em que o quintal do vizinho era um mundo por explorar no qual, não ser apanhado por ele era o meu objectivo máximo.
Que saudades, realmente...
Era o tempo da alegria imaculada, simples, básica e inocente. Era o tempo em que só tinha amor aos meus carrinhos, só sentia ciumes daqueles que tinham carrinhos melhores que os meus e só ficava triste quando um desses mesmos carrinhos se estragasse.
E como era bom ser básico.
Hoje em dia as coisas não são mais assim, por mais que o queira. Hoje em dia gostamos de pessoas, sentimos ciumes de gente, ficamos tristes por seres humanos. Coisas da vida que por mim seriam facilmente extreminadas, se assim o podesse.
Não há muita coisa em "ser adulto" que eu goste. Fala-se da liberdade, mas em criança tinha bem mais do que aquela que tenho hoje. Quer dizer, não tinha, mas o mundo que eu conhecia era tão inexplorado que dava a entender que sim.
Nada me espanta nos dias de hoje. As pessoas desiludem sempre, o Pai-Natal já não existe, o Coelho da Páscoa diz que estamos em época de austeridade e até os anões (que existem) são pessoas de face arrogante.
Em criança as pessoas eram mais amigas. Continuam a ser as mesmas pessoas, sim, mas em criança tudo era levado com um "coitado, ainda é pequeno, não sabe o que faz".
Davam-nos mais prendas num Natal apenas do que aquelas que eu recebo agora em cinco, ou seis.
Até o dinheiro era desvalorizado por nós, gente pequena. Para nós, ir ao café da esquina comprar dois chupa-chupas era sinal de riqueza.
Enfim.
Tenho saudades.
Tenho saudades porque cresci e conheci a mais do que aquilo que queria.
Tenho saudades porque todos os dias acordo na esperança de me olhar ao espelho e ver bem pequeno, outra vez.